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maioria das pessoas não consegue perceber a
história passando por elas, e continuam vivendo sem perceber mudança dos tempos e continuam sempre com a
mesma visão deturpada e limitada diante da vida, sempre mantendo os seus
preconceitos e os defendendo com unhas e dentes sem saber até que às vezes as
suas posições estão sendo derrotadas.
Nós nos moldamos através de
referências e o cerne desta crônica são estas referências. Eu imagino agora um
garoto negro de periferia pobre de qualquer cidade no Brasil, começando agora a
ter estas referências. Em toda a minha vida só
conheci um médico negro e ele sequer era brasileiro, era angolano,
imagino todas as crianças de pele escura que tiveram ausência de referências em
toda a vida e acabo percebendo o quanto as coisas estão mudando e o quanto o
meu país é mal resolvido, já não são o bastante
todos os preconceitos que já temos, estamos agora tendo uma revelação de
mais de umas facetas do campeão do mundo em termos de preconceitos.
A mãe poderia responder: “Meu filho,
você não pode ser cubano, pois nasceu no Brasil, não sei poderia se
nacionalizar por lá, mas é mais fácil ser um médico brasileiro”, analisando
friamente, um médico negro no Brasil seria mais difícil de acontecer do que se
tornar cubano, mas as referências estão aparecendo.
Tenho visto muita bobagem sendo dita
com relação a cotas nas universidades, por exemplo, que são um instrumento que
estão revolucionando o país em todos os aspectos, mudando inclusive as
perspectivas de gente que nunca teve perspectiva, antes diziam que haveria
confronto racial e até hoje nenhum foi documentado e isto contraria até a
realidade social, pois até agora não conheço um negro consciente que tenha dito
que no Brasil nunca tenha sofrido preconceito, ou seja, o que não acontece
dentro das universidades acontece fora todos os dias. Disseram também que os
cotistas iriam fazer com que o nível de educação referente às universidades
iria cair e o que acontece hoje é que presidentes de instituições vão à TV
dizer que a inclusão dos negros nas universidades públicas está fazendo crescer
a educação e que o desempenho dos cotistas é muitas vezes melhor que os dos não
cotistas.
Se não temos um número expressivo de
médicos negros no Brasil, os que vieram de Cuba já demonstraram uma mudança de
paradigma, em uma só levada de poucos médicos que já chegaram aqui, na
televisão pude ver muitos negros, muito mais do que o único que eu vi em toda a
minha vida, foram chamados 400, mas serão
4000 até o final do ano se não me engano do prazo.
O preconceito racial, pelo resultado
magnífico das cotas raciais e sociais está em vias de início de rejeição, mesmo
que isto seja incipiente, parece que existe agora um caminho que antes não
existia, abriu se um furo de alfinete em uma gigantesca parede de concreto e dá
para se ver o outro lado, mesmo que ainda limitado e com poucos tendo a real
oportunidade de refletir sobre os fatos, mas o Brasil está mudando para a
melhor, pois dá vontade até de vomitar só em pensar de um país em que se dizia
que não tinha preconceitos, mas onde estes são arraigados e de tão costumeiro
passam despercebido tanto pelos opressores quanto pelos oprimidos.
Brasileiros não satisfeitos com os
papeis que nossa sociedade perversa, opressora e excludente já determina a
muitos, agora uma nova faceta do mau caráter brasileiro se apresenta, além de
ser racista, sexista, homofóbico, preconceituoso estético, o nosso belo povo
brasileiro agora pode receber sem qualquer pudor o título de xenófobo, estamos
merecendo esta desonra, pois agora as vítimas são médicos estrangeiros, que mal
acabaram de chegar já estão sofrendo de perseguição do Conselho Federal de
Medicina, inclusive sendo ameaçados de ser denunciados em delegacias por prática
ilegal de medicina, isto feito pelo próprio presidente da entidade.
Aqui no Brasil, os médicos
estrangeiros passam pelo tal do Revalida, só que nenhum médico brasileiro passa
por um exame deste tipo, portanto, o tal exame tem feito o brilhante papel de
reprovar médicos com provas que provavelmente também os brasileiros seriam
reprovados, isto é não é mais do que a repetição de técnicas já conhecidas de
segregação.
O Brasil possui bons médicos, mas a
Medicina no Brasil não é referência, pois a melhor de nossas universidades (se
é possível apontar alguma) não alcança o número 200 dentre o rol das melhores
do mundo, portanto é difícil trazer médicos para o Brasil que sejam menos
preparados que os médicos brasileiros, nem todos são Randas Batistas, Pitanguis e nem todos são dedicados
ao paciente quanto o médico Francisco
Gregori (aquele que vendo a morte eminente da paciente, colou o coração
dela com Superbonder, e depois disto a paciente Joana Messas Woitas ainda
sobreviveu 14 anos, morrendo aos 82 anos em 2011).
Os conselhos de medicina estão indo
à luta de forma às vezes não muito legítima, mas já estão começando a tomar pau
na cabeça com a negativa de liminares junto ao Supremo Tribunal Federal e estão
inclusive incentivando o crime quando estão instigando aos médicos a
denunciarem médicos estrangeiros por prática ilegal de medicina, pois falsa
comunicação de crime também é crime neste país.
No país de mulheres barradas em
bailes por serem gordinhas, de negros
excluídos de cargos de importância, de deficientes sem o mínimo de atendimento
às condições de locomoção e trabalho, de pobres que são alijados da
possibilidade de mudar de nível social e agora por questões corporativistas o
descortinamento da xenofobia, o brasileiro demonstra que possui preconceito de
tudo e de todos, mas de uma forma ou de outra o enfrentamento de tudo isto pelo
Estado está despertando nas pessoas um conflito positivo para que as coisas
mudem, eu não estou falando destas passeatas sem objetivo que parece mais um
Carnaval e que são apenas o estopim para destruição das cidades, roubando do
povo o que é bem público através de desocupados mascarados sem qualquer tipo de
objetivo social e que destrói o que não lhes pertence como indivíduos, pois não
sei que melhora alguém pode querer destruindo agencias bancárias, derrubando
postes, semáforos, queimando carros, invadindo câmaras legislativas e
destruindo equipamentos, dá para saber que só querem a baderna e demonstrar a
tendência criminosa.
O que me dá esperança neste país,
não é a juventude alienada que eu nem sei se já está perdida, nem os supostos
participantes das passeatas, pois sequer sabem sobre o que estão protestando, o
que me enche de esperanças é quando vejo um relato de uma criança que mora em
uma palafita em que a mãe não tem dinheiro para comida, mesmo assistida por um
programa do governo, dizer à mãe que a vida vai melhorar quando ela se formar,
é fato de pessoas quererem sair das ajudas governamentais, é o fato de alguém
já me ter dito que a família já foi beneficiaria do bolsa família e que hoje
está na faculdade pública ou privada, o que me enche de esperança é a inclusão
que está sendo feita à revelia de pessoas que não conseguem enxergar nem o
outro e nem a si mesmo como realmente são: Meros seres humanos.
As referências estão aparecendo, e
apesar de eu já ouvir desculpas dizendo que negros, pardos e pobres enfim,
cotistas não serão médicos no Brasil pelo preço dos livros de medicina, as
coisas estão mudando tanto que talvez aquele garotinho negro entenda que o
caminho correto não é negar a existência dos preconceitos, mas não se vergar a
eles e apesar disto caminhar, pois assim estará sendo mais forte e de que
perceba que não precisa ser cubano para ser médico.
Walmir Santos de Almeida