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domingo, 24 de fevereiro de 2013

Uma decisão de matar e o suco de beterraba


         
H
á algum tempo atrás conversando com uma amiga pela Internet que estava fazendo pós-graduação em uma área da Enfermagem, sendo que ela mora aqui em Brasília, mas fazia residência em um hospital de São Paulo, perguntei o que  fariam lá caso alguém que pudesse ser salvo por uma transfusão sanguínea fosse adepto da Igreja Testemunhas de Jeová e não autorizasse. Ela me disse que diria que era suco de beterraba, mas faria a transfusão. Para falar a verdade eu fiquei na dúvida se ela estava brincando comigo, mas eu achei uma ideia espetacular, pois se uma pessoa pode acreditar que uma transfusão pode enviar para o inferno, então ela deve ser suficiente tola para acreditar que suco de beterraba pode ser colocado na veia para substituir o sangue.

           Em um programa de TV, que eu nem me lembro  qual, mas que sei que era norte americano e que falava sobre cirurgias e sobre problemas na emergência, uma mulher que tinha acabado de sofrer um acidente de automóvel e que estava perdendo muito sangue necessitava de transfusão para se manter viva e se declarou como Testemunha de Jeová, o programa era tipo reality show, portanto a situação era real, e tanto ela quanto a família não autorizaram, o resultado é que usaram técnicas avançadas para reaproveitamento do sangue, mas no final das contas a paciente morreu. Eu acho que os médicos poderiam ter dado uma roubadinha nas regras, poderiam misturar ao sangue dela algumas bolsas de sangue alheio para que fosse o suficiente para mantê-la viva, pois afinal de contas ninguém iria saber. O que se percebe em minha opinião é que foi uma decisão deliberada de matar.

            Eu se fosse médico usaria o expediente do suco de beterraba e depois da pessoa salva, eu falaria a verdade e diria que Deus me mandasse para o inferno, pois a culpa não era da paciente e sim do médico, primeiramente porque eu já estou condenado mesmo, e por ser ateu vou parar lá de qualquer jeito segundo os crentes, e outra porque estaria desafiando o Deus que preferia que a pessoa morresse. Se fossem caçar minha licença por eu ter salvado uma pessoa, então sairia de cabeça erguida.  Fico imaginando as manchetes: “Médico é condenado e preso por salvar paciente”.

            Cheguei a ver  na televisão brasileira em uma entrevista, um cidadão religioso dizendo que a transfusão de sangue deveria ser trocada por métodos alternativos, ou seja, um cara que nunca sentou em uma cadeira em uma faculdade de medicina querendo ensinar aos médicos? Não sou médico, mas qualquer um sabe que não dá para trocar sangue por água, por mais que seja ungida, filtrada ou santificada.

           Lembro a história de um toureiro que tomou uma chifrada na virilha e que perdeu seis litros de sangue antes de estancarem a hemorragia. Seis litros são muita coisa, mas à medida que saia, entrava sangue, não tenho notícias atuais deste toureiro, mas  a última que eu tenho conhecimento é de que ele estava se recuperando e pensando em voltar a tourear. Tirando o problema da profissão maluca alheia, o fato é que ele não teria qualquer chance sem o sangue.

            Podem me chamar de desonesto, de antiético, de um imoral que merece queimar por toda a eternidade, mas eu neste caso enganaria qualquer paciente descaradamente, não teria nenhum pudor em mentir desde que fosse com o intuito de salvar a vida, infelizmente isto não ocorre, mas eu sou adepto do suco de beterraba. Se alguém perguntar: Isto aí é sangue de outra pessoa? Não, isto tem cheiro de sangue, espessura, parece sangue, é só um pouco de sangue da paciente misturado com o tratamento alternativo de suco de beterraba, é um tratamento revolucionário, os senhores e as senhoras podem ficar tranquilos, pois este tratamento garante que seu parente vai sobreviver, mas não estará indo contra a vontade de Deus, nós aqui nem fazemos transfusão de sangue real, isto é pecado.

Prefiro ser o infiel inescrupuloso que salva uma vida, do que ser o Deus piedoso que permite a morte, na verdade eu nem sei se isto seria crime contra a liberdade religiosa, mas eu não estou nem aí para isto, pois as coisas têm pesos diferentes, eu estaria exercendo a medicina através de meus conceitos pessoais em detrimento dos conceitos de outros, mas é melhor agradecer a Deus depois da alta do que lamentar a Deus na capela do cemitério, por mais imaginário que este Deus possa ser.

2 comentários:

  1. Hum. Concordo quanto a vida. Discordo quanto a atitude. Por que assim como você tem suas convicções que se propõem a passar sobre as alheias (ainda que absurdas) já pensou se seu médico fosse um TJ e pensasse igual? Passaria por cima do que você acredita e faria a vontade dele.

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    1. Acho que raramente um adepto de Testemunha de Jeová terminaria um curso de medicina mantendo as convicções, não há como com a presença das evidências alguém mantenha convicções que são contra à sua própria formação profissional. Se ele fosse um Testemunha de Jeová e não quisesse fazer uma transfusão, ele deveria se preso por matar ou colocar em risco a vida de uma pessoa, não é questão de convicções, é questão de bom senso, a ética funciona através de grupo e se você fosse da máfia, por exemplo, aceitaria a imposição da sua crença e mataria uma pessoa pela sua causa? O fato é que o descumprimento das regras causa consequências, o problema é se você segue a maré evitando o desconforto da punição, ou faz o certo. No caso eu preferiria ser preso do que deixar alguém morrer por uma convicção tola, se a convicção for somente religiosa eu não respeito mesmo, se for racional eu me curvo. Um abraço!

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