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quarta-feira, 15 de julho de 2015

Somente para ver o mar




T
alvez seja muito cedo para fazer meu epitáfio, mas é que a todo tempo me pergunto sobre o que eu estou fazendo aqui, o que realmente valeu a pena, o que eu não deveria ter feito, enfim, uma hora ou outra todos que têm uma oportunidade fazem um balanço da vida, mesmo que isto não tenha qualquer sentido, pois não é possível mudar o passado e meu passado não me ajuda a planejar o futuro, portanto ainda continuo nas armadilhas da vida e vou continuar a sentir saudades do que eu nunca tive e do que possivelmente nunca vou ter.

Me afastei da proteção e preferi a verdade, me joguei diante de um mundo real e não levei em conta que as fantasias podiam me ajudar a viver, a passar pelos momentos mais triste e me ajudar a aguentar as agruras da vida, mas pelo menos sei que nasci para ver o mar, para enxergar um horizonte, mesmo que eu nunca possa alcança-lo, ou seja, a rudeza em enxergar e perseguir um mundo real, embora tenha afastado a fantasia, nunca me deixou fora da poesia, a poesia que me permite sentir algo diferente que não tenho palavras para descrever, portanto digo que seja o clima da vida, dos acontecimentos, um conjunto de circunstâncias que me faz sentir que o cheiro do mar, o calor do sol no meu rosto, a sensação de pisar na areia, o barulho das ondas, o gosto da água salgada  e a visão do horizonte já fazem que em minhas lembranças isto seja o suficiente para me levar de volta às praias que eu já visitei e me faz ter certeza que pelo menos algumas coisas, mesmo as que eu não consigo lembrar podem ter valido à pena.

Não sei o que é derrota, muito menos vitória, pretendo permanecer na inocência onde as respostas estão por vir, não tenho respostas, simplesmente pretendo me lançar ao mundo, como uma gaivota sem destino que simplesmente sobrevoa o mar somente porque pode fazê-lo. As obrigações me oprimem, as responsabilidades que a vida humana me impuseram me impedem de lançar vôos mais altos, mas talvez como se fossem musas inspiradoras, por uns momentos eu posso me libertar usando minhas asas, mas as que estão em minha mente, as que me fazem encarnar em um pássaro e sentir o vento sobre meu corpo, mesmo sabendo que o que me leva a incorporar é somente minha vontade, a minha imaginação e minha tentativa de estar em sintonia com a liberdade e de pelo menos durante um átimo de tempo estar solto sem  ligação com o aqui e agora, o mar consegue me levar neste caminho.

 Em meu epitáfio, mesmo que depois da minha ida eu pense que nada do que existe poderá tocar meu ego, pois penso que este se desvanecerá se misturando com as moléculas e a energia do Cosmos, que pelo menos alguém lembre que eu nasci para ver o mar, e mesmo que nada faça qualquer sentido para qualquer ser humano que pisou na Terra, pois destruindo a esperança de que exista algo além da morte, a vida de cada um perca a importância, pelo menos para mim que durante a vida não me importei em ser autêntico, me importei em não me iludir, me importei em respeitar a realidade, assim todas as sensações que eu tive valeram à pena, pois o Universo me permitiu experimentar coisas que muitas almas que não se formaram não puderam ter, pois só acredito na alma quando existe um corpo em vida, e por estar aqui tive oportunidade de ter uma vida, agradeço ao acaso, mesmo que meu destino fosse traçado e que eu só tivesse vindo aqui a este mundo somente para ver o mar.


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