ara
quem não conhece Brasília, existe um local no centro que é chamado de Setor
Comercial Sul, lá existe uma dificuldade de estacionamento, e isto acontece há muito tempo. Existe uma grande quantidade de escritórios e algumas lojas, e
para o consumidor sair de casa e estacionar por lá, é muito complicado, ou você
chaga cedo, ou tem que ficar rodando muito tempo para poder encontrar uma vaga
em algum estacionamento, sendo assim, existe uma boa quantidade de flanelinhas.
Diferentemente de outros locais,
aqui os chamados flanelinhas se contentam com uma moeda de R$ 1,00, e
dificilmente se vê alguém riscando carros, acontece que a coisa funciona na
base da confiança, e existem pessoas que fizeram desta atividade informal, uma
profissão, tanto guardando carros quanto lavando, você combina o preço, e
apesar dos estacionamentos estarem sempre lotados, não vai encontrar ninguém
querendo meter a faca na hora de cobrar, pois a coisa funciona como uma doação
e não imposição.
A convivência entre os guardadores
de carro e os motoristas, sempre foi pacífica, a ponto de se encontrar na mão
destes flanelinhas dezenas de chaves de carros que eles tomam conta. A coisa
funciona assim: Quando os estacionamentos estão lotados, as pessoas estacionam
em um lugar qualquer, mesmo em local proibido que atrapalhe a saída de outro
carro, então se uma pessoa resolve sair, o flanelinha entra no carro que está
tomando conta, libera a passagem par ao carro que está sendo obstruído e depois
coloca o carro do qual está tomando conta, naquela vaga aberta e tudo
funciona informalmente eficientemente,
pois o problema de vagas durante o horário e rush, lá é realmente complicado,
sendo que de certa forma os flanelinhas ao invés de extorquirem como acontece
em algumas cidades, lá de certa forma fazem um serviço de utilidade pública,
não vou dizer que eles sejam mal remunerados, pois tem flanelinha que chega
para trabalhar com seu próprio carro, mas quem estipula o serviço e o valor é a
própria população, e evitar o vandalismo se torna algo interessante para o
guardador de carro, mesmo que alguns resolvam que não vão pagar, o que vier é
lucro.
Uma época um governador cabeça de
bagre, resolveu contratar uma empresa para tomar conta dos estacionamentos do
SCS (Setor Comercial Sul), isto para facilitar o rodízio de carros e para que o
consumidor encontrasse vaga, então se pagava por hora, ele tentou copiar mais
ou menos o modelo de São Paulo, onde se compra um ticket de estacionamento, o
que para mim é um absurdo, pois já se paga para se ter as pistas e ainda
resolvem que se tem que pagar para deixar o carro parado. A idéia do cidadão
desempregou os flanelinhas.
Na época eu morava na quadra 103 Sul
e apesar de ter carro, eu poderia ir a pé até o SCS, a distância era de mais ou
menos um quilômetro e meio, era uma pequena caminhada, e eu me lembro que os
estacionamentos ficaram completamente vazios, quando eu digo vazio, eu quero
dizer, um verdadeiro deserto dava para contar os carros, o fato é que na idéia
magnífica que eles tiveram, acabaram esquecendo-se de um detalhe: Em Brasília
cada quadra tem grandes estacionamentos e seria um absurdo um carro ter que
pagar para entrar na própria quadra, então não havia como cobrar e os
motoristas que trabalhavam no SCS de uma hora para outra passaram a não se
incomodar em andar um pouquinho e passaram a estacionar dentro das quadras, e
aí, calçada também virou estacionamento. Rebocar um carro é fácil, rebocar 10
já é mais difícil, rebocar 1000? Aí a coisa fica muito complicada. Eu na
verdade não sei quantos carros ficam estacionados naquele local, mas a coisa
deve ficar talvez na casa dos milhares.
Alguns prédios que tinham
estacionamentos subterrâneos, mas que não tinham clientes, passaram a fazer
promoções e uma pessoa poderia estacionar todos os dias a um valor de R$ 70,00
e na época, este também não era um valor muito alto , ficaria menos de R$ 2,35
por dia. Deu para perceber que as pessoas em Brasília não gostam muito de
gastar dinheiro com estacionamento, pois até algo que poderia ser considerado
barato em muitas cidades, aqui era rejeitado, afinal de contas, os
estacionamentos eram gratuitos, então passar mais 30 minutos ou uma hora
procurando vaga, pelo menos na cabeça dos motoristas parecia ser mais barato.
As pessoas começaram a protestar,
mesmo não pagando nenhum centavo para estacionar, mas conseguiram se virar e a
empresa que tinha até passado por licitação, e deveria ter investido alguns
trocados, ( cá para nós, o que se
investe para administrar um estacionamento que já está pronto?) acabou tendo
prejuízos, ou seja, a oportunidade de ficar milionário cobrando para que carros
estacionassem em área pública, caiu pelos ares, e o problema não foi resolvido,
ou seja, aqueles gênios da administração pública querendo resolver um problema
de décadas, acabaram criando outro problema e nada deu certo.
O que ficou claro foram duas coisas:
A primeira é que quem administra o bem público, muitas vezes não tem idéia do
que faz e o planejamento é pior do que se fosse feito por uma criança de cinco
anos, outra coisa é que foi demonstrado
que quem é o governante é a própria população que não foi consultada e rejeitou
completamente a ação governamental.
Nem sempre na vida as histórias têm
final feliz, mas eu vou tentar forçar um ponto de vista: O governo desistiu da
sandice, a empresa que ficaria milionária teve prejuízo, a decisão foi
revogada, os flanelinhas voltaram a todo o vapor, inclusive foram até
cadastrados e hoje usam colete, se bem que apareceram uns digamos “clandestinos”,
mas a convivência é até certo ponto pacífica, o SCS continua hoje sendo o pior
local para se estacionar em todo o DF.
Finalizando, a moral da história,
pelo menos na minha visão da realidade é que o chefe somos nós, o chefe é você,
nós é que definimos como o bem público deve ser administrado, portanto é
obrigação dos supostos governantes consultarem a população e verificarem os
interesses, e mudando de assunto, o tal Marco Feliciano também deveria entender
que o mandato não é dele, e sim do povo. Acho que viajei na maionese, talvez
tenha misturado alhos com bugalhos, mas enfim, pelo menos foi de propósito.
Clique aqui e compre meu livro |
Confira a Página no Facebook |
Inscreva-se no Canal do Youtube |
Obs.: Esta crônica atualmente encontra-se publicada somente aqui neste blog
É apenas o primeiro... Tem muito mais pela frente!
ResponderExcluir