Não podemos congelar o tempo

       

A

 memória de cada um funciona de forma seletiva, algumas coisas são fáceis de gravar, outras mais difíceis, mas o que parece é que não é possível identificar qual o tipo de potencial que ela apresenta. Pessoas conseguem lembrar-se da visão, do cheiro e do clima envolvendo determinados fatos passados, mas muitas coisas são cinza e não é possível lembrar os detalhes.

            Nossas vidas passam e enquanto vivemos, a única forma de voltarmos ao passado é através da memória que de muitas formas é falha, mas é a nossa única ligação com o tempo decorrido.

            Pessoas desaparecem de nossas vidas seja por que se afastam voluntariamente, ou por que o destino nos separa, muitas vezes até pela morte, acaba a possibilidade de reencontro, de aproximação e de revivermos os momentos sejam eles de tristeza, alegria ou superação pelos quais passamos.

            Todos estamos em contagem regressiva desde o nascimento, mas preferimos não pensar muito nisto, e dependendo da idade pensamos que  somos imortais, pois na juventude percebemos uma maioria de mais velhos que viveram muitos anos além de nós, portanto a morte é um fato aparentemente distante, a menos que encaremos isto acontecendo com nossos amigos, nossos parentes, enfim em pessoas que dão certo significado às nossas vidas.

            Durante a correria do dia a dia acabamos nos envolvendo em tarefas às vezes repetitivas que nos fazem não ver o colega da escola ou do  trabalho, não perceber os fatos corriqueiros, e tudo vai passando como se não tivesse importância, servindo apenas como um preenchimento de tempo que ignoramos o quanto é escasso, sendo assim, ainda esquecemos que o relógio trabalha contra cada um, pois nosso tempo acaba.

            Se existisse uma máquina do tempo, em que fosse possível voltar ao passado, reduzindo nossa idade para a que teríamos em diversas épocas, mas com o conhecimento que temos hoje, certamente faríamos várias coisas de forma diferente para conseguir um resultado melhor, mas este privilégio não existe para ninguém, então, temos que nos contentar com as ilações provindas da imaginação com aquela dúvida: “E se eu fizesse diferente?”.

            Só nos resta prestar atenção no que temos de bom, pois os momentos que vivemos não voltam, nada se repete da mesma forma, não conseguimos retornar um segundo daquele ato impensado, daquela palavra dita fora de hora, daquela decisão equivocada.

            Um dia pode restar só a saudade das coisas que passamos, mas mesmo que seja até doloroso o tempo que passa, precisamos sempre procurar novos rumos, novas experiências, sejam elas as mais simples, ou os ideais mais complexos, pois não podemos congelar o tempo.

            Estamos aqui compartilhando experiências dentro de circunstâncias altamente improváveis de estar no mesmo tempo supostamente infinito, no mesmo Cosmos supostamente infinito, em um tempo extremamente curto, em um espaço extremamente limitado, para dividirmos nossas impressões sobre o mundo e sobre nós mesmos. A contagem regressiva ainda persiste, e me faz refletir sobre a grande dúvida: “O que eu vou deixar quando entregar o bastão a quem está chegando?” Quero congelar o tempo agora, ou talvez voltar atrás alguns anos para tentar parar o cronômetro  só para que eu passe de novo o que passou, prestando atenção no caminho, mas como isto não é possível, é bom que eu comece a perceber tudo com mais detalhes agora, antes que a contagem regressiva termine.

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Walmir Santos de Almeida

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