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urante
a vida executamos determinadas escolhas que nos fazem seguir uma opinião e
muitas vezes não podemos explicar o porquê, é como torcer pelo seu time de
futebol, basquete ou vôlei porque existe alguma identificação, ou com as cores
da camisa, com o hino, com os jogadores e até com a tradição; seguimos vários times, ou seria melhor dizer
que nos identificamos com vários segmentos como se o sentimento do grupo fosse
um complemento de nós mesmos.
Tem também aqueles times para os
quais torcemos contra e nem importa se a disputa não seja com o nosso, mas o
que fica claro é que existe uma necessidade de fazer parte de algo que seja
coletivo em que nos identificamos como se fosse um pedaço da nossa
personalidade.
Quando falo time, me refiro aos mais
diversos aspectos, pois você pode ser do time dos casados, dos solteiros, dos
religiosos, dos sem religiões, dos héteros, dos gays, dos valentões, dos emos,
dos comunistas, dos capitalistas, dos sertanejos, dos sambistas, pode também
ser do Flamengo, Fluminense,
Corinthians, Palmeiras ou do Bahia, não importa, o fato é que quando
existe a torcida a coisa acaba por vezes invadindo as paixões e se passa a
criar expectativas muito além das possibilidades e é muito fácil começar a
definir culpados.
Visto que nos identificamos com
certos agrupamentos, existe a tendência de tentar se tornar o padrão, então
quem não torce pelo nosso time estará sempre errado, a não ser que você torça
pelo Íbis de Pernambuco que é considerado o pior time de futebol do mundo em
que os torcedores protestam quando ele começa a ganhar e que aceitam com grande
expectativa quando um jovem jogador de 56 anos volta a jogar para “reforçar” a
equipe. Em um grupo de 15 times, os torcedores do Íbis chegaram a protestar por
ele estar em décimo terceiro de um grupo da tabela do campeonato, pois ali não
era o lugar dele, ele tinha que estar em último. Íbis à parte nosso time tem
que ser sempre o melhor e nós não temos culpa quando existe o mau desempenho, a
culpa é do jogador, da comissão técnica, do técnico, do jogador, do dirigente,
enfim a culpa é dos outros e a vitória é nossa, tem coisa mais justa que isto?
O grande problema da empatia é que
os defeitos desaparecem, eu não conheço nenhum time perfeito, nenhum regime
político infalível, nenhuma opinião imbatível, pois até quem é considerado o
melhor jogador do time pode perder um pênalti, pode errar uma cesta fácil, ou
bater um balão para fora da quadra em uma cortada sem bloqueio, mas em certos
momentos os defeitos têm que ser esquecidos, pois dizer que o outro time é
melhor? Nem pensar, a não ser em raríssimas exceções.
Quem sempre tem melhores visões das
coisas é quem está neutro e nem torce por um lado nem para o outro, sendo assim
poderá ser melhor juiz, mas este não vai sentir a emoção da bola na trave, da
cesta tentada do meio da quadra que quase caiu, ou do soco do lutador que errou
por pouco, pois mesmo que isto não valha na vitória, o quase também jogo: “Meu
time perdeu, mas você viu aquela bola na trave?”. “Se o juiz não tivesse
anulado aquele gol o jogo estaria empatado”, não adianta, há sempre uma
desculpa.
Na torcida pelos nossas equipes de
coração, talvez não se possa mudar de time, se não fosse assim, o América e o
Madureira não teriam torcida, mas nas torcidas das quais fazemos parte pela
vida, é necessário de vez em quando virar a casaca, mudar de lado, trocar de
opinião, refrear as paixões, refletir sobre os erros e acertos e também assumir
a culpa individual pelos defeitos, mesmo que isto torne certas torcidas mais
chatas.
Evidentemente transpor os momentos
de falta de lucidez que são comuns às paixões quando se torce por uma equipe e
criar fatos que se ligam à vida real, partindo para violência somente por ser
contrariado por que seu time tomou uma surra, ou por que o torcedor da outra
equipe faz gozação da sua cara, pois seu time perdeu com um gol de mão aos 47
minutos do segundo tempo, tira toda a graça. A maior torcida deve ser para nós
mesmos e para o que respeitamos internamente de forma a não querer que nos
aconteça nada de negativo transferindo este determinação para o outro como se
ele fosse um espelho da nossa realidade.
Será
possível entender que determinadas torcidas são apenas distração? Será possível
aceitar que aquele seu time e aquela emoção fazem parte somente de uma fantasia
que deve ser controlada? O
time para o qual eu torço é aquele das pessoas sensatas que sabem curtir o
momento, mas também sabem se desligar facilmente da emoção quando a realidade
se apresenta, enfim, torço pelo time dos justos.
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