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domingo, 24 de março de 2013

Para que time você torce?


                 
   D
urante a vida executamos determinadas escolhas que nos fazem seguir uma opinião e muitas vezes não podemos explicar o porquê, é como torcer pelo seu time de futebol, basquete ou vôlei porque existe alguma identificação, ou com as cores da camisa, com o hino, com os jogadores e até com a tradição;  seguimos vários times, ou seria melhor dizer que nos identificamos com vários segmentos como se o sentimento do grupo fosse um complemento de nós mesmos.

            Tem também aqueles times para os quais torcemos contra e nem importa se a disputa não seja com o nosso, mas o que fica claro é que existe uma necessidade de fazer parte de algo que seja coletivo em que nos identificamos como se fosse um pedaço da nossa personalidade.               
            Quando falo time, me refiro aos mais diversos aspectos, pois você pode ser do time dos casados, dos solteiros, dos religiosos, dos sem religiões, dos héteros, dos gays, dos valentões, dos emos, dos comunistas, dos capitalistas, dos sertanejos, dos sambistas, pode também ser do Flamengo, Fluminense,  Corinthians, Palmeiras ou do Bahia, não importa, o fato é que quando existe a torcida a coisa acaba por vezes invadindo as paixões e se passa a criar expectativas muito além das possibilidades e é muito fácil começar a definir culpados.
            Visto que nos identificamos com certos agrupamentos, existe a tendência de tentar se tornar o padrão, então quem não torce pelo nosso time estará sempre errado, a não ser que você torça pelo Íbis de Pernambuco que é considerado o pior time de futebol do mundo em que os torcedores protestam quando ele começa a ganhar e que aceitam com grande expectativa quando um jovem jogador de 56 anos volta a jogar para “reforçar” a equipe. Em um grupo de 15 times, os torcedores do Íbis chegaram a protestar por ele estar em décimo terceiro de um grupo da tabela do campeonato, pois ali não era o lugar dele, ele tinha que estar em último. Íbis à parte nosso time tem que ser sempre o melhor e nós não temos culpa quando existe o mau desempenho, a culpa é do jogador, da comissão técnica, do técnico, do jogador, do dirigente, enfim a culpa é dos outros e a vitória é nossa, tem coisa mais justa que isto?

            O grande problema da empatia é que os defeitos desaparecem, eu não conheço nenhum time perfeito, nenhum regime político infalível, nenhuma opinião imbatível, pois até quem é considerado o melhor jogador do time pode perder um pênalti, pode errar uma cesta fácil, ou bater um balão para fora da quadra em uma cortada sem bloqueio, mas em certos momentos os defeitos têm que ser esquecidos, pois dizer que o outro time é melhor? Nem pensar, a não ser em raríssimas exceções.

            Quem sempre tem melhores visões das coisas é quem está neutro e nem torce por um lado nem para o outro, sendo assim poderá ser melhor juiz, mas este não vai sentir a emoção da bola na trave, da cesta tentada do meio da quadra que quase caiu, ou do soco do lutador que errou por pouco, pois mesmo que isto não valha na vitória, o quase também jogo: “Meu time perdeu, mas você viu aquela bola na trave?”. “Se o juiz não tivesse anulado aquele gol o jogo estaria empatado”, não adianta, há sempre uma desculpa.

            Na torcida pelos nossas equipes de coração, talvez não se possa mudar de time, se não fosse assim, o América e o Madureira não teriam torcida, mas nas torcidas das quais fazemos parte pela vida, é necessário de vez em quando virar a casaca, mudar de lado, trocar de opinião, refrear as paixões, refletir sobre os erros e acertos e também assumir a culpa individual pelos defeitos, mesmo que isto torne certas torcidas mais chatas.

            Evidentemente transpor os momentos de falta de lucidez que são comuns às paixões quando se torce por uma equipe e criar fatos que se ligam à vida real, partindo para violência somente por ser contrariado por que seu time tomou uma surra, ou por que o torcedor da outra equipe faz gozação da sua cara, pois seu time perdeu com um gol de mão aos 47 minutos do segundo tempo, tira toda a graça. A maior torcida deve ser para nós mesmos e para o que respeitamos internamente de forma a não querer que nos aconteça nada de negativo transferindo este determinação para o outro como se ele fosse um espelho da nossa realidade.

            Será possível entender que determinadas torcidas são apenas distração? Será possível aceitar que aquele seu time e aquela emoção fazem parte somente de uma fantasia que deve ser controlada?  O time para o qual eu torço é aquele das pessoas sensatas que sabem curtir o momento, mas também sabem se desligar facilmente da emoção quando a realidade se apresenta, enfim, torço pelo time dos justos.

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